REVISTA GRANDES ESCOLHAS | MAIO DE 2018

VINHA DO CONTADOR

TEM MAIS TRÊS EDIÇÕES

Vinha do Contador tem mais três edições

Uma casa histórica no Dão anunciou as suas melhores estrelas. Para além do branco e tinto, existe agora uma aguardente no portefólio da marca Paço dos Cunhas Vinha do Contador. Estes ícones do Dão, e de Santar em particular, são os novos topos de gama da Global Wines.

Mil seiscentos e nove é o ano que se pode ler no pórtico principal do Paço dos Cunhas, na vila de Santar. Estamos, pois, a falar de uma casa cujos registos mais antigos conhecidos datam da crise dinástica de 1383 – 1385, que opôs Portugal a Castela e culminou na Batalha de Aljubarrota e no fim da pretensão do rei de Castela à união dos dois reinos. Nesta altura, o então proprietário do Paço, Diogo Soares de Albergaria, terá apoiado Castela e foi por isso despojado de todos os seus bens pelo recém-aclamado rei de Portugal, D. João I.

Este é apenas um episódio desta casa de antiquíssimo património histórico. A sua narrativa vínica pode não ter a mesma idade, mas é sem dúvida das mais antigas do Dão. Junte-lhe o facto de a Global Wines considerar este terroir aquele onde “a natureza foi mais generosa” e temos as razões para a Vinha do Contador ter sido eleita para fazer os vinhos ícone desta grande empresa do Dão.

A Vinha do Contador apresenta 7 dos 30 hectares plantados na propriedade, com exposição sul-poente e vários tipos de solos. Esta vinha, em modo biológico, é alvo de tratamento de luxo e nunca há pressa na vindima: só quando as maturações são consideradas completas e equilibradas é que as uvas são colhidas. Osvaldo Amado, enólogo da casa, diz mesmo que “se as uvas não estiverem em condições de fazer o Vinha do Contador, não há problema”: “O resto da produção, aquela que nos dá de comer, já está em casa.” Afinal, estamos a falar de 5,000 garrafas de branco e outras tantas de tinto e a qualidade tem de ser muito especial. 2011 foi realmente um ano vitícola superior na região, o que levou a empresa a apresentar previamente este tinto a um grupo de provadores internacionais e a espelhar a sua aprovação na designação Grande Júri com que o engarrafou.

Quanto ao Vinha do Contador branco, é de 2014 e foi feito maioritariamente de Encruzado, “a grande casta branca do Dão”, diz Osvaldo Amado, que a tem privilegiado nas novas plantações. Só metade do vinho fermentou em barricas, quase sem tosta, para dar apenas alguma suavidade, volume de boca e uns “avelanos”.

A terceira novidade é uma estreia absoluta: trata-se de uma aguardente velha, com média de idade em estágio de 20 anos. Foi feita apenas com base da destilação de vinhos tintos e estagiou em barricas de 225 litros. O resultado, na nossa opinião, é magnífico.

Osvaldo disse-nos ainda que é intenção da empresa continuar a cobrir todos os segmentos de mercado do Dão, mas reservar as propriedades fora desta região para fazer apenas vinhos de média e alta gama. “Para o maior volume, temos o Dão, que é a nossa região de origem e aquela onde temos maior alavancagem”. Refira-se que a Global Wines possui o Monte da Cal, no norte alentejano, e a Quinta do Encontro, na Bairrada. Esta última será cada vez mais orientada para os espumantes.

Paços dos Cunhas Vinhas do Contador Grande Júri | 18
Dão tinto 2011
Touriga Nacional, Tinta Roriz e Alfrocheiro, combinam-se de forma perfeita neste tinto luxuoso e polido pelo tempo e pela barrica. Fruta silvestre madura, notas balsâmicas e de especiarias, delicadas flores silvestres, um toque suavemente fumado. É um tinto volumoso, com taninos de seda, boca muito cremosa e envolvente mas avivada por fina acidez que lhe confere elegância e distinção (14,5%)

Paço dos Cunhas Vinha do Contador | 17,5
Dão Branco 2014
Feito com base em Encruzado, com um pouco de Malvasia Fina e Cerceal Branco. Fermentado parcialmente em barrica, esta quase não se sente no aroma ainda fechado e austero, com delicadas notas de casca de citrinos. Na boca a frescura e mineralidade vêm ao de cima, potenciando a fruta de laranja e lima, mas sempre com muita leveza e finura. Crocante, bastante fresco, jovem ainda, será muito interessante assistir à sua evolução em garrafa. (13,5%)

Paço dos Cunhas Vinha do Contador | 17,5
Aguardente Vínica Velha
De acentuada cor âmbar, revela uma bela intensidade e profundidade aromática, lembrando madeiras exóticas, café, nozes e avelãs, um toque de açúcar tostado. O álcool aparece muito bem envolvido pelo corpo cheio, o conjunto mostra-se sedoso e bastante equilibrado com final longo e muito apimentado (41,5%).

Revista Grandes Escolhas | Maio de 2018 | António Falcão